Chegou
a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria
embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha
interna hercúlea, confesso.
Quando
começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de
nós, lembro da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho
direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes
que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que
significa isto. Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor incondicional de
mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma
droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e
independentes; prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas
frustrações e cometer os próprios erros também.
A
cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova
fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o
amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se
transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos,
constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter
certeza de que estamos lá, firmes, na concordância e na divergência, no sucesso
ou no fracasso, com peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o
conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe -solidários- criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser desnecessários, nos transformamos em
porto seguro para quando eles decidem atracar.'
Marcia Neder
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